Há algo de profundamente simbólico no Novembro Azul.
Enquanto o discurso público fala de prevenção, exames e diagnósticos, há uma camada mais silenciosa e mais antiga pulsando por baixo: a guerra entre o homem e a ideia de “homem de verdade”.
A saúde mental é hoje a fronteira mais difícil das novas masculinidades.
Não porque falte informação, mas porque falta permissão.
Permissão para sentir, para ser tocado, para ser cuidado.
O homem de verdade — essa construção rígida, autoritária e solitária — ainda ocupa o trono cultural de quem dita o que pode e o que não pode ser feito com o corpo masculino.
E é exatamente essa ideia que precisa ser derrotada.
O Novembro Azul, antes de ser uma campanha sobre próstata, é uma batalha simbólica contra uma masculinidade que ensinou gerações a morrer em silêncio.
Não estamos lutando contra o homem — estamos lutando contra o modelo de homem que o impede de viver.
Aquele que repete que “dor se engole”, que “choro é fraqueza”, que “toque é humilhação”.
Essa masculinidade não protege: ela apodrece por dentro.
É o muro que blinda o corpo e aprisiona a alma.
É o motivo pelo qual tantos homens descobrem tarde demais que o câncer já estava ali, esperando apenas que o silêncio fizesse seu trabalho.
Quando dizemos que o verdadeiro Novembro Azul é emocional, não é uma metáfora bonita.
É uma urgência.
Porque antes que o homem aceite o exame, ele precisa aceitar ser humano.
Antes de permitir que um médico o toque, ele precisa permitir que alguém o escute.
E antes de cuidar do corpo, ele precisa parar de punir o próprio sentimento.
A masculinidade tóxica se alimenta da fantasia de invulnerabilidade.
Ela ensina o homem a confundir cuidado com submissão, e vulnerabilidade com derrota.
Mas quando o homem começa a se permitir o toque — seja o toque médico, o toque afetivo ou o toque simbólico de um outro olhar — ele atravessa o muro da ideia de homem de verdade e entra, enfim, na condição de humano.
E é aí que o Novembro Azul cumpre o seu papel mais profundo: o de curar não só o corpo, mas a cultura.
O toque que o homem evita é o mesmo que poderia salvá-lo.
O silêncio que ele defende é o mesmo que o mata aos poucos.
E enquanto ele continuar acreditando que ser forte é não precisar de ninguém, o câncer seguirá vencendo.
Não por força biológica, mas por cumplicidade cultural.
Estamos perdendo homens para uma guerra inventada — a guerra contra a própria humanidade.
O inimigo não é o câncer: é a blindagem emocional que o protege.
Quando o homem renuncia à ideia de ser “de verdade”, ele se torna real.
E quando ele se torna real, ele se torna possível.
O verdadeiro Novembro Azul não se faz apenas com laços e exames.
Faz-se com escuta, com desconstrução, com coragem de dizer:
“Eu também preciso ser cuidado.”
E talvez esse seja o primeiro toque que realmente salva.
*Nailton Reis é Neuropsicólogo Clínico com especialização em Neuropsicologia Cognitiva Comportamental, Avaliação Psicológica e Psicologia do Trânsito em Cuiabá-MT.
Maria da Costa Filho, conhecida como Dona Fia, teve seu trabalho reconhecido nacionalmente por meio de uma reportagem do Globo Rural, que destacou sua produção sustentável de leite desenvolvida em parceria com um projeto do WWF-Brasil. Proprietária do Sítio São José, localizado em Araputanga, a 345 km de Cuiabá, Dona Fia é um exemplo entre os produtores e produtoras da região...
Situação semelhante já havia sido registrada em 2023 por produtores da região Oeste.
O evento seria realizado no município de Araputanga para atender casais da região Oeste do estado.
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